segunda-feira, 25 de junho de 2012

Relato de parto - nascimento do Tyler


PREPARAÇÃO PARA O PARTO
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  Na minha 1a. gravidez frequentei em Campinas um grupo de gestantes que apoiava o parto normal e humanizado. Lá conheci várias mulheres que optaram por ter seus filhos em casa.  Como tudo que é novo, no início estranhei a ideia. Não conseguia ver nenhuma vantagem niso. Depois que pesquisei mais sobre o assunto e vi que podia ser até mais seguro para gestações de baixo risco, achei interessante, mas ainda não era pra mim. Eu morava em Jaguariúna, a pelo menos 30minutos do hospital que tinha escolhido. Tinha medo de pegar trânsito em uma emergência ou coisa parecida.
  Na verdade nem sei se esse é o principal motivo. Eu não tinha realmente comprado a ideia e, pra completar, o Alessandro muito menos. Ele achava isso coisa de hippies. Enfim, o Nathan nasceu no hospital, de um parto normal (ou não tão normal assim, já que ele estava sentado, mas isso é assunto pra outro relato).
  Na 2a. vez engravidei já morando no Canadá. Aqui você pode escolher entre fazer pré-natal com parteira ou obstetra. Escolhi parteira, claro! Os procedimentos do pré-natal são basicamente os mesmos, só que com muuuito mais apoio. Ou seja, as parteiras controlam seu peso, pressão, glicose, pedem ultrassons, exame de sangue, analisam o resultado, etc. Enfim, um pré-natal normal. Bom, mas tenho outros posts aqui no blog onde falo disso, então quem quiser saber mais leia.
  O que importa é que, acompanhada por parteira, a gestante pode optar pelo parto em casa, se quiser. No início brinquei com a ideia, falava assim "Ah, se eu quisesse agora até dava pra nascer em casa, afinal moramos a 3 quadras do hospital".O Alessandro só concordava e dava risada, sem achar que eu estava falando sério. E naquela época, eu não estava, mesmo. O plano era ter meu bebê no hospital, mais por causa da anestesia do que outra coisa. Eu ainda queria tentar me virar sem epidural, mas as dores no parto do Nathan foram tão fortes que eu achava bem provável que fosse pedir uma, no final.
  Até que, um belo dia, uma das minhas parteiras recomendou que eu lesse o livro Hypnobirthing. Foi um divisor de águas, pra mim! Quando aprendi mais sobre o funcionamentos dos músculos do útero e os hormônios envolvidos no parto, comecei a achar que era  possível um parto com menos dor. Aí voltei a pensar num parto em casa e o assunto ficou meio em aberto. Mas a ideia me agradava cada vez mais. Antigamente eu pensava: por que raios em casa? Qual a vantagem desse negócio? Ter uma parteira que vai te dar um atendimento humanizado não é o suficiente? Pois é, mas quanto mais relatos de parto eu lia, mais eu me convencia. As mulheres que tiveram filho em casa falam tão felizes da sua experiência. A sensação de estar no comando, de fazer tudo como você quer, de não tirar o olho do seu filho nem por um segundo, de ser a 1a. pessoa a segurá-lo, o respeito, o carinho, a forma gentil e suave de trazer um filho ao mundo... Enfim, tudo parecia muito legal e eu achava que podia dar conta.
  Volta e meia eu falava alguma coisa sobre isso com o Alessandro. Ele não falava nada contra, mas acho que era porque ainda não achava que eu estava falando sério. Até que marquei de irmos numa mini-palestra que ia ter lá na clínica das parteiras sobre Parto Domiciliar. No dia anterior, quando o lembrei do compromisso, finalmente ele percebeu que a coisa era pra valer. Anos de preconceito e desinformação falaram alto e brigamos (na verdade ele brigou comigo, humpf). O discurso era aquele típico de quem não pesquisou sobre o assunto "Isso é coisa de hippies! Você quer se mudar pra uma caverna, também?". Eu lembro até da minha resposta, hehehe. "Bom, para gestação de baixo risco, a segurança é a mesma em casa ou no hospital. Se na caverna o nível de conforto e segurança for o mesmo que em casa, tudo bem".
  Mas enfim, fomos na tal palestra, ele viu os equipamentos que elas levam pro parto domiciliar, leu resumos dos estudos mostrando a segurança, viu as estatísticas e... acabou concordando. Ufa, melhor assim. A partir daí me preparei para o parto lendo o livro Hypnobirthing e tentando aprender as técnicas de respiração e relaxamento. Comprei lençóis e toalhas beeeem baratinhos, que eu não me importaria de jogar fora se manchassem no parto. Lavei com água quente, passei e guardei bem lacradinhos e etiquetados. E fiquei esperando...
 

O PARTO
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Era um sábado, 16/junho. Nessa noite acordei de hora em hora pra ir no banheiro. Levantei umas 08:00 e logo percebi que estava com contrações que pareciam bem frequentes. Comecei a monitorar às 09:00. Estavam vindo mais ou menos a cada 6 ou 7 minutos, mas ainda fracas. Também tive algumas que classifiquei como sendo de intensidade média. Como tive um alarme falso no sábado anterior e parecia que tava tudo igualzinho, quis esperar até decretar que estava em trabalho de parto.
  Tava meio difícil de monitorar certinho, porque eu estava fazendo várias coisas. Preparei meu café, preparei o café do Nathan, comi, levei embora o café da manhã rejeitado aos gritos pelo Nathan, levei outra coisa e por aí vai. Lá pelas 10:00 o Alessandro apareceu, então fui tomar banho para ter um tempo tranquilo e tentar decidir se era trabalho de parto ou não. Até porque tínhamos um churrasco pra ir em Mississauga, uma cidade vizinha a 30minutos de casa, então tinha que resolver se íamos ou não.
  Bom, mas meu banho estava meio tumultado. Primeiro o Nathan ficava entrando/saindo, depois o Alessandro ficava me fazendo perguntas. Ele tinha comprado uns trecos pela internet e tinha que buscar em uma terceira cidade, que fica a 40minutos "pra lá" de Mississauga. Então eu também tinha que decidir se dava pra ele ir ou não, pra ele ligar pro cara e combinar. Oh, céus. Difícil decidir se estou em trabalho de parto assim, sob pressão!! Como as contrações não estavam doendo muito, achei que era mais do agito, mesmo e que dava pra ir. Na verdade eu já tava achando que talvez ainda nascesse à noite, ou no dia seguinte. Mas achei que era mais um motivo pra deixar ele buscar logo as coisas, porque depois que o bebê nascesse eu não ia querer liberá-lo tão cedo.
  Enfim, fomos. Eu e o Nathan ficamos na casa da minha amiga em Mississauga e o Alessandro seguiu pra Richmond Hill buscar suas tralhas. Nisso eu continuei tentando monitorar as contrações, o que é uma tarefa bem difícil tendo um toddler de 2,5anos pra cuidar. Mas agora elas já estavam mais doloridas. Quando vinham, eu fechava os olhos, só respirava e tinha que parar de conversar. Xiii... Assim que o Alessandro voltou, falei "come e vamos". Mas em menos de 5 minutos minha bolsa estourou. Não vazou só um pouquinho. Foi aquela torneira aberta, mesmo. Encharcou minha calça. É, definitivamente eu estava em trabalho de parto, hehehe. :-) Eram 13:30. A Valéria e a Virgínia me trouxeram uma saia, absorventes e toalhas e nos pusemos a caminho. Saímos de lá 13:45.
  Assim que entrei no carro liguei pra parteira. Na verdade é um sistema de pager. Aqui elas não passam o celular pra gente. :-( Por outro lado, se nenhuma das minhas 2 parteiras oficiais estiverem disponíveis, elas mandam outra da equipe. Enfim, 10 minutos depois a minha parteira1 liga de volta. Falei "Estamos a caminho de casa. Ponha-se a caminho também que tá nascendo". Nesses 10 minutos de carro as contrações já estavam doendo mais e ficando bem freqüentes.
  Continuei na minha missão difícil de relaxar sentada em um carro em movimento. Descobri que valeu muuuito a pena ler o livro hypnobirthing. Cada vez que eu percebia que estava tensionando os ombros ou querendo travar os dentes, eu me obrigava a relaxar e respirar profundamente, como o livro ensinou.
  Dali a pouco a parteira estagiária me ligou pra avaliar a situação, porque a parteira1 já estava a caminho. Ela queria saber se quando a bolsa rompeu o líquido estava claro (aqui, em caso de mecônio o procedimento protocolar é ir pro hospital). Também perguntou da freqüência e duração das contrações. Mas eu não estava conseguindo responder nada. Eu começava a falar com ela e logo passava o telefone pro Alessandro, que também não sabia as respostas.

  Achei que eventualmente ela fosse desistir, mas que nada! Ela continuava esperando pacientemente na linha e voltava a fazer suas perguntas. Ela queria muito saber a freqüência e duração das contrações e quão doloridas elas eram. E também desde que horas elas estavam assim ou assado. Eu até tentava responder, mas na verdade não sabia exatamente pois, como já falei, eu estava em um churrasco, não concentrada no trabalho de parto. Ela também queria muito saber mais sobre o líquido da bolsa. Mas aí eu é que não tava muito a fim de responder. Vai que ela concluía que eu precisava ir pro hospital, logo agora que tava tudo indo tão bem? Aí eu acabei me irritando com as perguntas e falei pra ela: "Quer saber? O bebe ta nascendo e vai nascer LOGO!! É isso que importa". Aí não quis mais falar com ela e quando o Alessandro tentava me passar o telefone eu só fazia sinal de não com a cabeça. Aí finalmente ela desistiu e desligou. Hehehe, tadinha. Ela é um amor de pessoa. :-)
  Mas enfim, continuamos a caminho e, quando estávamos a uns 3 minutos de casa, senti que algo mudou. Tinha alguma coisa acontecendo "ali embaixo". Senti uma pressão lá embaixo e a dor aumentou. Eu tentava respirar lenta e profundamente, mas minha respiração ficou rápida por vontade própria. Falei pro Alessandro: ai, vai nascer!! Comecei a achar que ia nascer no carro. O Alessandro ainda perguntou se eu queria ir pro hospital. Falei que não. Ou só pensei? Não lembro...
  Enfim, chegamos em casa e ele estacionou. Virei pro encosto do banco pra ficar mais confortável e já tava pensando em ficar por ali, mas o Alessandro achou uma péssima ideia. Ok, pra dentro então. E em retrospecto, ufa, ainda bem que ele me convenceu a entrar. :-) Mas tinha 2 probleminhas (e era por causa deles que eu tava pensando em ficar ali). Primeiro, que nós moramos num apartamento, no 12o. andar. Segundo, o Nathan, que adormeceu durante o caminho. E meu marido, coitado, olhou pra mim e perguntou "E agora, carrego você ou o Nathan?". Ele pegou o Nathan no colo e tentava me amparar ao mesmo tempo. Mas tava muito difícil andar. Minha vontade era ajoelhar na grama e ter meu filho ali mesmo. Mas enfim, conseguimos chegar na entrada do prédio e lá uma mulher se ofereceu pra levar o Nathan no colo até em casa, pro Alessandro conseguir me ajudar. Ufa, essa foi uma ajuda realmente útil!! Assim amparada chegamos até o elevador. As contrações vinham uma atrás da outra. Eu louca por uma parede, um chão, qualquer coisa pra encostar e inclinar pra frente. Eu e o Alessandro não nos acertávamos. Ele tentava me ajudar, mas acabava me fazendo ficar em poses que pioravam a dor. Enfim fiquei de frente pra ele e pedi suas duas mãos. Aí finalmente deu certo. Ele segurava o meu peso pelos cotovelos, eu encostava a cabeça no peito e barriga dele e conseguia me inclinar pra frente, que era o que eu precisava. O elevador chegou no nosso andar, mas ainda tinha um looooongo corredor pela frente. Eu fui andando de costas ainda apoiando a cabeça na barriga do Alessandro, tentava respirar, às vezes tentava agachar, mas ele me obrigava a continuar andando.
  Entramos enfim em casa. Mais um ufa!! Eram 14:31. Nisso o Nathan já tinha acordado completamente. Ele reclamou de ter que ir até em casa no colo de uma estranha e também não parecia estar entendendo o que tava acontecendo. Mas aí já começou a correr pela casa e a brincar de esconde-esconde. Eu me arrastei até o banheiro, fiquei de quatro no chão e me apoiei na banheira. Planejei encher de água e entrar, mas não consegui. Nisso o Alessandro já tava no telefone com a parteira de novo. Ela perguntou se eu achava que o bebê ia nascer em menos de 20 minutos. Ouvi o Alessandro responder inicialmente que não, mas eu fiz sinal que sim. Então ela disse pra ele ligar pra 911, explicar que o bebê estava nascendo e que a parteira não ia chegar a tempo. Ele ligou pra 911 do celular dele. Mais uma contração e eu percebi que o Tyler tinha descido mais ainda e já tava praticamente na saída. Pela 1a. vez deu vontade de fazer força. Mais uma contração, fiz força pela 2a. vez. O Alessandro gritou no telefone: "I can see the top of the head!" (Estou vendo o topo da cabeça!). Desculpem colocar em inglês, mas essa frase, junto com a voz dele, está tão gravada na minha cabeça! Quero continuar lembrando desse momento exatamente como ele aconteceu. Me senti animada, agora tava muito perto! Pouco antes ou pouco depois a parteira ligou no meu celular (o Alessandro atendeu) e pediu pro Alessandro colocar no speaker e deixar perto de mim, pra ela poder falar comigo. Ela me disse "Camilla, eu não quero que você faça força, ok?". E eu "hm-hum, yes", mas pensando que essa simplesmente não era uma opção. Com força ou sem força, o bebê ia sair. Estava acontecendo. Meu corpo estava no comando. Aliás, essa sempre foi a ideia. Quando conversamos sobre o parto, eu tinha dito a ela que não queria ninguém me dizendo que horas eu deveria fazer força. Eu nem pretendia fazer força nenhuma. Minha ideia era deixar acontecer naturalmente. Bom, no fim foi assim que aconteceu. Pois fazer força também veio naturalmente.
  Mais uma contração. Desculpe contrariá-la, dona parteira, mas fiz força sim. Logo em seguida o Alessandro veio me dizer que os paramédicos disseram que eu devia ir pra cama e deitar. Não sei se eles não entendem nada de parto ou se queriam tentar retardar um pouco as coisas. Meio a contragosto, rastejei até o quarto e me apoiei na beirada da cama. Outra contração. Força pela 4a. vez e... a cabeça saiu!! O Alessandro continua tentando falar com os paramédicos e a parteira ao mesmo tempo "The head is out! The head is out!!" (A cabeça saiu! A cabeça saiu!). Ouço ela dizendo pra ele passar a mão ao redor do pescoço, acho que pra ver se tinha alguma circular de cordão. Não tinha. Ela explica que na próxima contração o corpo vai sair. Eu respiro e espero. A contração vem, faço força pela 5a. e última vez e... Tyler nasce! Alessandro pega. Eu viro, sento no chão e o peço pra mim. A parteira pergunta se ele está respirando. Não sabemos. Ele abre a boca, mas não sai nenhum som. 1 segundo. Dois. Três. Quatro. Cinco. Um chorinho. Eu tiro minha blusa e o aconchego no meu peito. Mais um chorinho. Concluo que ele está respirando. Peço pro Alessandro toalhas pra cobri-lo. Elas já estavam separadinhas, lavadas e embaladas, em cima da escrivaninha, em frente à cama. Então rapidamente ele pega e nos cobre. Acabou. Está tudo bem. Hora do nascimento - 14:39.
  O Nathan aparece. Falei pra ele: "Olha, Nathan. O bebê saiu da barriga da mamãe!". Ele só dá uma olhadinha, fala "Bebê?", não vê muita graça e volta a brincar em seu quarto.

PÓS-PARTO
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  2 minutos depois do Tyler nascer, chegam ao mesmo tempo as duas parteiras e dois paramédicos trazendo macas!!Pelo que entendi, as parteiras subiram correndo os 12 lances de escada, enquanto os paramédicos vieram pelo elevador.
  Estava aqui pensando que os hormônios do parto devem inativar o senso de vergonha. Porque eu estava sentada no chão, numa poça gigantesca de líquido amniótico, sangue e mecônio, praticamente  pelada, só coberta por algumas toalhas. Mesmo assim, não tava nem aí pros intrusos. Não me passou pela cabeça um único pensamento sobre roupas, nudez, vergonha ou coisa parecida.
  A primeira pessoa que vi foi a parteira Tracy. Ainda lembro do sorriso dela quando me viu. Mais tarde ela disse que eu estava a serenidade em pessoa, sentada lá tranquila, como uma madona. :-) Ela perguntou como eu estava. Eu me sentia ótima! Nenhuma dor, nenhum cansaço, nenhum nada. Estava apenas feliz, sensação de dever cumprido.
  As parteiras começaram a desempacotar alguns equipamentos. Os dois paramédicos só ficaram parados na porta do quarto, olhando, como dois totens. Não teve pressa nem correria nenhuma. Ainda com o Tyler no meu colo, a parteira estagiária, Sara, mediu a pulsação, ouviu o coração, ouviu o pulmão e mediu a temperatura. Estava tudo bem, ele estava ótimo. Não precisava aspirar nada, violência praticada rotineira e desnecessariamente nos hospitais (principalmente no Brasil). Fizeram as mesmas checagens em mim, mediram pressão, temperatura, etc. Comigo também tudo perfeito. O Tyler continuava tranquilo no meu colo, sem chorar e tivemos a chance de ficar ali, juntinhos. Nada de levar correndo pra limpar, pesar, medir. E eu percebo que tudo o que me falaram sobre cheiro de recém-nascido não era mentira nem exagero. Gente, que cheirinho delicioso de vérnix! Eu lia outras mães contando nos relatos de parto que o cheirinho era bom, mas eu sempre duvidava. Como assim cheiro bom? Ele tá lá todo gosmento, talvez ensaguentado, não tem como esse cheiro ser gostoso. Pois é, pra minha felicidade eu estava errada. Como é bom poder ter esse contato com ele antes de qualquer pessoa, antes de qualquer limpeza. Com o Nathan não tive essa chance. Quando o trouxeram pra mim já estava limpinho e vestido. Que pena...
  Ah sim, agora pensando bem, teve uma coisa que elas fizeram correndo logo que chegaram: me deram uma injeção de pitocin na coxa. Elas falaram que o meu parto foi muito rápido e, nesse caso, eu tinha uma chance muito aumentada de hemorragia. A injeção era, portanto, pra evitar que isso acontecesse. Outra hora quero ler mais sobre isso, fiquei curiosa.
  Enfim, algum tempo depois, chegou a hora de cortar o cordão. Já estava branquinho, sem sangue, missão cumprida. A parteira passa um tesourinha esquisita e o Alessandro corta. Pouco depois coloco o Tyler no peito. Ele dá uma mamadinha fraquinha.
  Alguma hora chegou mais uma parteira, a Rhea. São sempre duas (uma pra mãe e outra pro bebê) e a estagiária não conta. E agora que já tínhamos tido um bom tempinho, ele já tinha mamado e estava tudo tranquilo, as parteiras queriam checar se estava tudo bem comigo lá embaixo e lidar com a expulsão da placenta. A Sara pegou o Tyler e aí finalmente um dos totens foi útil pra alguma coisa: me ajudou a levantar, hehehe. :-)
  Deitei na cama e acho que nessa hora os paramédicos foram embora. A Tracy olhou, falou alguma coisa que não me lembro, depois pediu pra eu fazer força e... plop! Nasceu a placenta. Enquanto isso a Sara fazia mais algumas checagens no Tyler. Vi de rabo de olho que ela repetiu todo aquele procedimento de pulsação, temperatura, etc e mais alguns, como reflexos e o teste do olhinho. Também aplicou a vitamina K. Por aqui não existe a forma oral à venda, tem que ser na injeção.
  Enquanto isso a Tracy ficou analisando a placenta e me explicando tudo. Me mostrou as ramificações, a forma como o cordão fica centralizado, me mostrou a bolsa rompida e falou: "Foi aqui que ele morou nos últimos 9 meses". Ohhh, que bonitinho. E que apertadinho! Bye bye, casinha do Tyler. Checou o comprimento do cordão: cerca de 2 pés, que é exatamente o esperado.
  Logo o Tyler voltou pra mim, embrulhado nos cueiros que eu tinha preparado para o parto. Coloquei pra mamar de novo. Dessa vez me pareceu que ele deu uma mamadinha melhor e mais comprida.
  Agora eu já perdi um pouco a noção de tempo, mas enfim o Alessandro pegou o Tyler, foi pra sala com ele e eu fiquei com as parteiras, que foram conferir "o estrago". Tive uma laceraçãozinha mínima. Um pouquinho de pele rasgou, mas nada envolvendo músculo. Engraçado que eu nem sabia direito que músculos poderiam ser rompidos!! Argh. Bom, resumindo tive que levar um único ponto. Um procedimento chatinho, mas que não doeu. Ela disse que quando se faz isso logo que o bebê nasce, normalmente nem precisa anestesiar, porque as endorfinas do parto já bloqueiam qualquer dor. No meu caso ela deu uma anestesiada, mas juro, nem senti a agulha entrar em lugar nenhum. Eu tava com medo desse ponto, mas foi tranquilo tranquilo. Aliás, é até meio engraçado. Eu planejo um parto em casa, sem anestesia, mas tenho medo de uma agulhinha. :-)
  Depois disso acho que não teve mais procedimento nenhum. Só um grande interrogatório, hehehe. Elas me perguntaram muita coisa! Horário que rompeu a bolsa, horário das primeiras contrações, enfim, aquelas perguntas do telefonema tudo de novo. E mais algumas. Onde eu estava quando ela ligou, o que eu senti, quantas vezes eu fiz força, que horas fui do banheiro pro quarto... Enfim, acho que estava tentando calcular a duração de cada uma das fases, para colocar no relatório dela. Foi a parteira que disse que o nascimento foi às 14:39. Ela disse que sabe porque "ouviu" ele nascer e checou o relógio. :-) Elas também foram caçar o absorvente que eu usei depois que a bolsa rompeu e fizeram uma mesa redonda pra decidir a cor do líquido. Após debate e votação, o vencedor é... líquido de cor amarelada!! Parabéns!! Depois elas ainda pararam pra me explicar muitas coisas. O que esperar quanto a sangramento, frequência das mamadas, cuidados com o umbigo e coisas assim.
  Enquanto o papo rolava, a única coisa prática que faltava era eu ir no banheiro. Aparentemente, isso era muito importante. Elas ficavam me perguntando o tempo todo se eu tava com vontade de fazer xixi. E eu: "Não, acho que não preciso ir". E elas: "Toma mais água!", hehehe. Elas também queriam ficar de olho quando eu levantasse da cama, pra ver se eu não ia ficar com tontura ou coisa parecida. Bom, eventualmente levantei e não vi nada de mais. Fui até lá, sentei, descarreguei e... bom, todo mundo sabe como isso funciona, né? :-) Voltei pro quarto e logo me perguntaram: "E aí, fez?".Respondi que sim e, depois das comemorações, cerimônia de premiação, medalha, etc, a parteira Rhea ficou satisfeita com a minha recuperação e foi embora.
  A Tracy e a Sara ainda ficaram, pra acompanhar a temperatura do Tyler mais um pouquinho. Primeiro, porque é o procedimento normal, pra ver se o bebê não vai ter febre, alguma infecção. Fora que, no meu caso, como o meu exame de Streptococos B tinha dado positivo, teoricamente eu teria que ter tomado antibiótico pela veia assim que elas chegassem pra acompanhar o trabalho de parto. Mas durante o pré-natal elas mesmas sempre diziam que, pelo meu histórico, achavam que talvez não desse tempo. Porque também ninguém ia parar pra furar meu braço se elas chegassem e eu estivesse... sei lá, no expulsivo ou quase. Mas falaram também que tudo bem, porque se o parto é rápido, a chance de uma possível infecção também é muito remota. E realmente, o Tyler não teve nada.
  Às 18:30 continuava tudo bem, tudo tranquilo, então elas me perguntaram se eu queria que ficassem mais um pouco. Como estava tudo bem, liberei as parteiras e enfim ficamos só nos 4: Eu, Alessandro, Nathan e Tyler. Eu e meus 3 meninos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
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  Acho que nenhum parto é totalmente como a gente imagina, mas esse até que passou perto. Eu torcia por um parto rápido e realmente foi. Eu torcia pra não ter que tomar antibiótico e realmente não tomei. Eu torcia por um bebê saudável e o Tyler nasceu perfeito. Tinha avisado as parteiras que não queria que elas me falassem pra fazer força. Eu queria fazer se/quando desse vontade. E realmente fiz tudo do meu jeito. Também estava fazendo auto-lavagem cerebral para me convencer de que as contrações não iam doer. Bom, não foi 100% indolor, mas foi muito, muuuito melhor do que no parto do Nathan. Naquele, eu gritava, urrava, mordia a toalha, sofri muito. Neste eu só respirava fundo e visualizava os músculos circulares do útero abrindo, dando passagem. A dor intensa foi só nos últimos 3 minutos no carro e nos minutos até chegar em casa. Quando eu já tava no banheiro e começou a vontade de fazer força, não era mais exatamente dor, era diferente. Ainda doía, mas eu não queria que passasse. Sentia que tava quase lá, que a cada contração ele ficava mais perto.
  Também não senti o famoso "círculo de fogo". Senti alguma coisa quando a cabeça passou, mas foi no máximo um círculo quente, hehehe. Achei que ia doer muito, muito mais. Mas o que me lembro é de uma grande sensação de alívio.
  De um modo geral, achei ótimo o modelo de assistência que recebi. Parto em casa assistido por parteiras, tudo coberto pelo sistema público de saúde é uma coisa maravilhosa! Elas chegam preparadas para diferentes tipos de assistências e emergências. Nas fotos não dá pra ver bem o tanto de coisa que elas carregam, mas enfim aí vão as fotos das 2 malas que trouxeram:


Também tive sorte de estar com parteiras muito bacanas. Elas limparam o chão do quarto, organizaram todo o lixo, brincaram com o Nathan... Aliás, pra quem se preocupa com a bagunça gerada, não precisa! Foi tranquilíssimo e o lixo se resumiu a 3 saquinhos:


A assistência delas continua por 2 meses. Vieram na minha casa no dia seguinte ao perto, vieram no 3o. dia, vieram no 5o. dia e virão novamente 2a.feira, que será o 10o. dia. Só depois disso é que vou ter que começar a sair de casa pra ir até o consultório fazer as checagens do Tyler.
  Enfim, resumindo, estou muito feliz com tudo. Até o Alessandro, que antigamente era tão contra parto em casa, parece feliz e satisfeito com a experiência. Foi tudo tão tumultuado que não tenho fotos do nascimento. Não tenho a famosa foto do "papai levando o bebê pra conhecer a mamãe". Ainda bem! Às vezes vejo fotos de todos de toquinha, mamãe amarrada na maca sem poder pegar o bebê no colo e acho tão triste... Melhor ter essa memória linda do papai passando o bebê direto pra mim, da mesma forma que ele foi concebido.

  E pra finalizar o post, uma foto do "resultado final", Tyler:


   Lindo, né? Eu que fiz. :-)

21 comentários:

  1. Lindo, lindo, lindo!!! Parto lindo, filho lindo!
    Parabéns!!!!
    Beijos
    Laura do Caetano, 1a3m PD

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  2. Ai que delícia de relato...
    Agora, cá entre nós, a gente encara o parto na boa mas amarela na hora dos pontinhos, qdo precisa... acho muito engraçado isso. No parto do Júlio tive uma laceração mediana, a AC mandou ver nos pontinhos mas viu, como era ardidinha a tal agulhinha, os tais pontinhos... *rs Bb passar pelo buraquinho, ok, agulhinha cutucar, aii, até arrepia os cabelos!!*rs
    Parabéns Camilla!!! Que agora venha muito leitchuco p/ bbzão!!!
    bjs,

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  3. Lindo relato!
    Perfeito!
    O resultado final então mais que perfeito!
    Lindão!!
    Beijos

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  4. Camilla,
    Parabéns!!!
    Através das suas palavras, deu para vivenciar um pouco da intensidade do seu trabalho de parto com você.
    Dois partos memoráveis, o pélvico do Nathan e o domiciliar desassistido do Tyler.
    O que esperar do terceiro? rs
    Abraços

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    1. Brenda, não estamos planejando um terceiro, não. Mas se vier, é melhor eu passar o último mês em casa, senão é capaz de nascer no mercado, no elevador, no meio do shopping, rsrsrs. :-)

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  5. O post mais emocionante de todos os tempos, parabéns! E o Tyler é lindo... <3

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  6. Lindo, Ca!!
    Amei tudo!!! Posta na lista!!
    Parabéns mais uma vez!
    bj

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  7. Ai, amei amei amei seu relato! Esse é o parto dos meus sonhos! Hahaha!

    E ele é lindo mesmo, parabéns pela obra de arte!

    Sabe, uma vez ouvi uma frase que ficou gravada para sempre na minha cabeça: "Bebês nascem!" Independente de parteiras, médicos, hospitais, eles nascem! (salvo raras exceções, claro). Só precisam ser deixados nascer! E as mães, claro, precisam ser preparadas para acreditar que seus corpos funcionam. No final, é tudo tão simples, né? Espero que quando chegue minha vez seja assim também! Não moro muito perto de nenhuma maternidade (devo estar a uns 10 minutos de carro de uma particular que não tenho a menor intenção de ir e uns 20 a 25 minutos de carro de outra pública que talvez seja meu plano B). Mas, de qualquer forma, quero um parto domiciliar, demais! Meu sonho! E o bom é que a Paula também quer, nós duas temos pavor de hospital.

    Beijos, querida. E parabéns por se informar tanto e por fazer o melhor pra você e seu filho!

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  8. Lindo relato! Amei!
    Parabéns pelo parto, pelo Tyler e obrigada por compartilhar conosco essa história tão bacana!

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  9. Ai que emocionante!!! Tenho certeza que vai ficar na história da nossa família :-)

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  10. Enfim achei novamente seu blog, bem a tempo de ler o relato de seu parto, bem fresquinho....amei tudo, nossa que delicia de parto.....
    os meus foram normais sem anestesia e tal, mas foram no hospital e tiveram algumas coisas que eu não gostei, no próximo (se eu tiver um próximo) vu estar mais preparada e decidida para brigar e opinar em outras coisas que desejo para min e o bebe, mas acho ainda q seria num hospital....rsrs

    Vocês estão de parabéns, mamãe, papai, bebê e irmão todos unidos e colaborando com tudo ....ameiiiiiiii

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  11. Ai Lica que lindo!!! Estava ansiosa para saber todos os detalhes e me emocionei com o relato do nascimento do pequeno Tyler, quando o Alessandro passa ele para você, cheguei a engasgar, muito legal mesmo. Parabéns!!!!

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  12. Amei o relato!!! Estava aguardando ansiosamente! E que lindo terminar com uma fotinho dele... Muito, muito, fofooooooo! E o Nathan, hein? Como está reagindo? bjs e força aí!

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  13. Nossa.. o post mais aguardado dos últimos tempos. Queria muito saber como tinha sido. Não tive esse incentivo que vc encontrou para poder passar por esse momento tão natural. Vc é minha ídola! :D Muito bom trabalho.

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  14. Muito lindo seu relato de parto e seu filhotinho! Parabéns!
    Dina (Maria Flôr 5 anos e Léo 9 meses)

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  15. Coisa Linda da Titia,que pena que mora longe se não já estava ai....tando mal costumes pegando ele no colo um mooooootão. Bjosss

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  16. Ola Camilla!
    moro no canada tambem e li o sua linda historia no dia em que iquei sabendo da minha gravidez.. Hoje! sempre quis fazer o parto hmanitario, em casa com uma parteira.. mas agora eu tenho mais que certeza! que emocionante! que experiencia! Obrigado por dividir!! O nathan e lindo! Muito amor pra voce e sua familia!
    Aline

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  17. Um dos relatos de PD mais bonitos que já vi, me emocionei em vários momentos! Parabéns!

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    1. Que bom que você gostou! Não sei quem você é, mas obrigada. :-)

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