segunda-feira, 12 de março de 2012

Violência Obstétrica - Dia Internacional da Mulher - Blogagem Coletiva

  Tô meio atrasada. Esse post era pra ter saído dia 08/março. Mas enfim, aí vai.

  Houve uma época em que eu não sabia nada sobre partos. Aí, um belo dia, cheguei num site que mostrava o vídeo de um nascimento. E logo em seguida o site falava algo do tipo "É um absurdo que ainda existam nascimentos assim! Isso é uma violência!".
  Eu fiquei com a maior cara de ué, assisti de novo e não entendi nada. Não lembro exatamente do vídeo, mas lembro que o bebê nascia, o médico o virava de cabeça pra baixo, dava palmadas, a enfermeira o pegava, esfregava o rosto pra limpar o sangue, colocava pra pesar, media, jogava um treco nos olhos dele, dava uma injeção e... durante esse tempo todo, o bebê berrava.

  Assisti de novo e novamente não achei onde estava o problema. Mas isso faz tempo. Hoje sei onde estava o problema: na minha cabeça. Quer dizer, na verdade o problema está na novela, nos filmes, nos hospitais, nas mídias. O problema é que a gente se acostuma com determinados tipos de violência e passa a achar: 1) que são normais e 2) que não existe outra forma de ser.
  Tipo mulheres africanas que sofrem mutilação dos seus clitóris, acham que "tem que ser assim mesmo" e, quando crescem, submetem suas filhas ao mesmo procedimento. Claro que esse é um exemplo extremo. Mas é só pra demonstrar que às vezes a gente sofre/pratica violência sem nem perceber.

  Voltando ao vídeo... Pra mim aquele era um parto como outro qualquer. Eu nunca tinha parado pra pensar no bebê, no ponto de vista dele e o que ele poderia estar sentindo. Eu nunca nem tinha pensado que bebê também tem sentimentos, também sentem frio, medo, stress.
  Bom, o tempo passou, muita coisa mudou na minha cabeça e, esses tempos, vi novamente um vídeo como aquele.  Hoje eu já penso no ponto de vista do bebê, então me deu vontade de chorar. O bebê passa 9 meses na barriga da mãe dele. É um ambiente escurinho, quentinho, sempre na mesma temperatura, com o barulho constante do coração da mãe. Lá a alimentação é também constante pelo cordão umbilical e ele nunca sente fome ou sede. Ele consegue se mexer, nadar, chupar o dedo.
  Aí de repente ele vai pra fora: puf!!! Luzes fortes machucam seus olhos (dor 1). Palmada no bumbum (dor 2). O centro cirúgico é refrigerado, está muito mais frio do que os 37graus que é a única temperatura que ele conhece (dor 3). O cordão umbilical é cortado imediatamente. De uma hora pra outra não há mais oxigênio vindo pelo cordão e o pulmão ainda tá aprendendo a funcionar. A sensação é semelhante a sufocar (dor 4). Um colírio é jogado em seu olhos e arde (dor 5). Injeção de vitamina K (dor 6). Ele passou 9 meses encolhido e a enfermeira o estica todo pra fazer a medição (dor 7). O bebê não sabe onde está, sente medo. A única pessoa com quem ele esteve contato esse tempo todo, a mãe, está longe. Ainda não o viu, não o pegou. O bebê não sabe o que está acontecendo. Só percebe que, de repente, tudo mudou. E tudo mudou pra pior. Ele estava confortável, agora é uma dor atrás da outra e um desconforto atrás do outro. Ele não consegue nem se mexer, sequer se virar. É ou não é uma violência?
  Ahh, agora muitas de vocês devem estar pensando o mesmo que eu pensei quando assisti aquele vídeo em meados de 2006/2007. "Ué, mas não é assim mesmo? Como que tinha que ser, então?". Bom, primeiro precisamos considerar que às vezes as coisas dão errado no parto. Às vezes existe algum problema e o bebê precisa ser levado às pressas. Ok, a gente quer o melhor pro bebê e às vezes o melhor é assim. Mas de agora diante vamos pensar no cenário feliz, em que dá tudo certo.
  No chamado "parto humanizado", o lugar do parto é especial. Luz fraquinha, temperatura não tão baixa, talvez música suave. O bebê nasce e imediatamente vai pro colo da mãe. Peladinho e sujinho, mesmo. Alguns nem consideram o vérnix sujeira. O calor da mãe ajuda a esquentá-lo. Por cima jogam um lençol ou cobertor. Eles ficam ali se conhecendo, sem pressa. O bebê mama pela 1a. vez. Aos poucos o cordão umbilical para de pulsar, só então ele é cortado. Talvez pelo pai. Muitos bebês nascem e não choram. Por que chorar, se está tudo bem, tudo calmo e tranquilo? Os procedimentos a serem feitos são escolhidos pelos pais. Se for dada uma injeção, é dada no colinho da mãe, mesmo.
  
  E por enquanto falei só do bebê. É que minha experiência com parto foi meio doida. Eu queria que fosse normal, mas precisava ser cesárea, o bebê não sabia disso, foi descendo e pá, virou parto normal. Aí embolou tudo. Tem coisas que não sei dizer se foram violência ou foi só por conta do calor da situação.
   De qualquer forma, muitas mulheres passam por um parto violento e nem se dão conta. Acham que foi tudo normal, simplesmente porque várias outras mulheres passam pelas mesmas coisas. Elas não sabem que pode ser diferente, que pode ser melhor. Não sabem que a maioria das cesáreas são realizadas por causa de desculpas bobinhas dos médicos. Ao contrário, acreditam que foram necessárias e agradecem a eles. Algumas realmente são necessárias, lógico, mas é preciso muita informação (pelo menos no Brasil) para separar o joio do trigo. 
  Mas enfim, não vou falar muito desse assunto, que já tá cheio de blog falando disso por aí. O que vou fazer é divulgar o Teste da Violência Obstétrica. Se o teste te deixar com a pulga atrás da orelha ou se você quiser mais informações sobre parto, o que é normal, o que é não é, quais são os motivos pra cesárea que na verdade são apenas desculpas, etc, sugiro os sites Parto no Brasil e Mamíferas.


4 comentários:

  1. Nossa, perdi as contas de quantas vezes vivenciei alguma forma de violência obstétrica nos estágios que fiz. Triste, muito triste. Muitas vezes eu ficava tão deprê que chorava e tinha vontade de sumir dali. Essa foi uma das razões que me fez abandonar a área da obstetrícia, sabe?
    O que me deixa aliviada é que eu tenho conhecimento sobre essas coisas então com certeza não passarei por isso quando for ter meu bebê. Quer dizer, "com certeza" eu não sei, né? Se eu precisar ir para um hospital, sabe-se lá o que vai acontecer! Espero que isso não aconteça.

    Bjs

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ah, mas você com certeza vai estar bem preparada, mesmo se for pra hospital. Vai escolher o melhor hospital e a melhor equipe. E digo "melhor" no sentido de pessoas que vão te respeitar e respeitar suas escolhas. Lá em Campinas conheço mulheres que tiveram partos super humanizados em hospitais. Sem intervenção nenhuma, sem colírio, sem vacina, sem pressão. Tudo perfeito. Do jeito que o meu teria sido, se o danadinho no Nathan não estivesse sentado. :-)
      Beijo!

      Excluir
  2. Oi Camilla, agora concordo com tudo...acho q o parto tem q ser humanizado sim! Claro que após parar pra pensar sobre isso...óbvio....a gente se acostuma realmente com as coisas e aceita achando q é o certo...respondi o questionário, com muito orgulho de ter uma super amiga engajadíssima nisso tudo...uma das organizadoras, a Lígia, é tb sócia dessa amiga minha no Bazar coisas de mãe em Floripa...a Sheila, mamãe do Caetano, minha amiga de Rio Grande, que teve um parto fantástico em casa....realmente as duas são super mães e estão colaborando muito pra divulgar e ajudar as mães a ter um emprego junto dos filhos...no bazar, mamães vendem coisas lindas , e os filhos não vão pra escolinha, ficam o tempo todo com suas mães...http://www.facebook.com/pages/Bazar-Coisas-de-M%C3%A3e/185347268178414 é muito legal a ideia e as coisas que elas produzem...bjocas mil

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Que legal, Aline! Tá todo mundo longe, mas todo mundo conectado. :-) Esse mundo moderno é ótimo! E que delícia, poder trabalhar sem ter que colocar o filho em escolinha. Parabéns pra essas mamães.
      Nossa, preciso me atualizar no seu blog. Depois que ele mudou de endereço, não recebo mais os avisos de quando tem post novo. Vou lá ver.
      Beijo!

      Excluir