segunda-feira, 23 de maio de 2011

Ser mãe é perder filhos.

  Um belo dia eu engravidei. Eu compartilhava fotos, ultrassom e deixava uns poucos escolhidos passarem a mão na barriga pra sentir o Nathan chutar. Mas isso é quase zero de interação. O bebê era meu, meu, só MEU, huahuahua. Eu que o nutria, eu que o sentia se mexer, soluçar, esticar os bracinhos... Sabia onde estava a cabeça, onde estava o bumbum... Nem vem, era meu e pronto!
  Aí ele nasceu. Assim que ele nasceu eu já o perdi. A neonatologista o levou. :-( Ei, aonde você vai com o meu bebê?? Volta aqui!! Ele é meu!! A gente nunca se separou antes!! Mas ok, enfim ele voltou e agora sim, é meu de novo!
  Ah, é, o pai dele quer segurar, pegar no colo. Ok, ok, ele é nosso. Mas agora chega, ele é da mamãe e do papai, de mais ninguém, combinado?
  Aí chega a tia Cintya. Ok, tias têm sobrinhos e o sobrinho é dela. Titia pega o Nathan no colo. Percebo que senti um ciuminho. Ponho a culpa nos hormônios pós-parto. :-) Bom, melhor ciúme que a famosa depressão pós-parto, né?
  Aos poucos a família vai conhecendo o novo integrante. Então o meu bebê vira o Nathan da vovó, o Nathan do vovô, o Nathan das titias, do titio, o Nathan das tias-avós e assim por diante. Puxa vida, ele era só meu, agora eu tenho que compartilhá-lo com tanta gente... É como se, com cada pessoa nova, cada interação, eu o perdesse um pouquinho.
  O tempo passa, ele começa a sorrir e, aos 6 meses, começa a comer. Até então, ele só mamava no peito. Aqueles 7,3kg de gente? Tudo eu que fiz!! Cada pedacinho de pele, cada fio de cabelo, cada dobrinha. Com minha gordura, com o meu leite. Mas aí eu o perco mais um pouquinho e tenho que dividi-lo com as comidas.
  Ele começa a ir para a escolinha e a perda é enorme, monstruosa!! Tenho que compartilhar meu bebê com aquelas tias todas. Eu vou buscá-lo e elas me contam o que ele fez, como passou o dia. Poxa, eu perdi tudo isso?? Perdi ele disputando a panelinha? Perdi ele comendo espinafre com abóbora e raspando o prato? Ah, você viu que tem um dentinho novo nascendo? Eu já tinha visto, tá? Nhénhénhénhé, vi pri-meeei-roooo! Humpf, querendo ver o dente do meu filho antes de mim, humpf!
  O crescimento continua, ele aprende a engatinhar, aprende a andar e... ué, cadê o meu bebê??? Ele estava aqui agora mesmo, onde agora tem um menininho. Hello, alguém viu um bebê por aí? Ele é pequenininho, mama de 2 em 2 horas e não consegue segurar o pescoço. Alguém? Não? É, ele foi embora. :-( Eu amo muito, demais, mais que tudo esse menininho que tá no lugar dele, mas eu também amava o bebezinho. Não tem como ter os 2? Não??
  Não, não tem. Perdi. Perdi um recém-nascido, perdi um bebê que sorria o tempo todo pra todo mundo, perdi um bebê que engatinhava, perdi um bebê que não falava. E hoje, de certa forma, o perdi mais um pouquinho.
  O Nathan é totalmente grudado em mim. Normal, né? Quem é a única pessoa que ele viu todos os dias de sua vida, sem falhar um? Só eu. Mas desde o começo do ano, eu e o Alessandro estávamos passando quase a mesma quantidade de tempo com ele, já que ninguém estava trabalhando. Aí, mês passando, quando ele começou a trabalhar, achei que o Nathan fosse sentir bastante a falta dele. Mas no fim, não vi muita diferença. Passava o dia numa boa, brincando, tudo normal. Mas claro que, quando o Alessandro chegava, ia correndo pra porta, todo feliz.
  Até hoje é assim. Quando o papai sai pra trabalhar, ele dá tchauzinho e parece não ligar muito. Mas à noite, quando ele ouve o barulho da porta, vai correndo encontrá-lo. É uma gracinha de se ver. Como eu achei que ele podia estar sentindo falta do papai, mesmo sem demonstrar muito, resolvi tentar mudar a rotina noturna pra que eles passassem mais tempo juntos. Em vez de tomar banho comigo, ele tomaria banho com o Alessandro. Ops, péssima ideia!! Foi entrar na banheira para os gritos começarem. Fui pra banheira junto (os gritos continuaram). O Alessandro saiu da banheira (mais gritos). Ele sai do banheiro (os gritos começam a diminuir). O Nathan pede pra mamar e os gritos passam. Ok, voltando à rotina. Sim, senhor Nathan, isso não se repetirá, perdoe a nossa falha. É, aparantemente ele continua sendo o Nathan da mamãe... Fica feliz ao ver o papai, vai no colo dele, abraça, dá beijo, mas se tiver escolha, sempre vai querer a mamãe. Quer dizer, até ontem...
  Tava sol, calorzinho, então fomos pro parquinho que tem aqui perto de casa, onde a gente sempre vai. Mas dessa vez o Alessandro também foi. O Nathan foi no balanço, o Alessandro ficou empurrando e eu tirando fotos. Aí eu passei a máquina pro Alessandro tirar fotos da gente e continuei empurrando e... o Nathan reclamou! Ué, que que foi?? Eu não sei empurrar direito? Ficou esticando o bracinho e fazendo cara de emburrado.
   Achamos que queria a máquina, mas não. Sair? Também não. Ok, papai empurra. Ah, beleza, a manha parou na hora. Olha a alegria do mocinho:

  Trocamos de novo, só pra checar e realmente ele não queria que eu empurrasse. Então tá, né?
  Eventualmente ele pede pra sair do balanço. Pega na mão do papai e vai puxando ele até o escorregador. Eu vou acompanhando. O Nathan escorrega e, quando chega no final, vou ajudá-lo a descer e... ganho um não! Assim, na cara! De repente! Sem nem uma conversinha antes. Um não acompanhado de uma giradinha de ombro e bracinhos batendo na minha mão. O papai vai pegá-lo e ele ergue os bracinhos.
  E assim, dia 22 de maio de 2011, aos 18meses e 2 dias do Nathan, perdi a exclusividade. Não tenho mais a preferência em 100% do tempo. Agora às vezes ele prefere o papai. O que eu achei? Achei super bonitinho. :-) Estranho seria se ele nem ligasse pro pai dele. O Nathan estava acostumado a ir sempre só comigo no parquinho, então ontem é que como se ele estivesse mostrando onde ficava cada brinquedo, mostrando que já sabia escorregar sozinho, querendo partilhar também com ele aquela diversão. Tá certo que eu também não podia ir pra muito longe, que ele reclamava, mas dava pra perceber que ontem a preferência era pelo papai. E eu fico feliz com mais esse avanço. Quero muito que eles sejam próximos, que sejam amigos, que brinquem juntos. Afinal, nada mais triste que uma família desunida...
  Não tem problema. Eu já perdi tantos filhos... Eu aguento. Vai ser muito pior quando eu perder o Nathan pro videogame, pro computador, pra namorada... Arghhh!! Nathan, dá um cantinho que tô indo aí dormir com você!

8 comentários:

  1. Que legal Lica, lembrei de quando estavamos gravidas rsrsrsr, e o Guinho foi fazer um concurso em Campinas e conversamos pelo celular sobre algumas coisas, vc lembra...
    Um beijo

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  2. Lindo o post!
    Mas tente ver o copo meio cheio, em vez de meio vazio: ser mãe é também ganhar filhos! Antes vocÊ só tinha o Nathan recém nascido, mas ainda vai ter muitos Nathans :-)
    E ainda vai se orgulhar muito mais das suas conquistas...

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  3. ai...tenho um medinho de coisas do tipo q vc escreveu!!!
    pq tive uma mãe muito controladora q por medo de me perder me privou do mundo!!!!
    não gosto nem de pensar em algo do tipo....não tô falando q seja seu caso...estou falando do meu pra vc ter uma idéia!!
    hj faço terapia pra curar algumas feridas do nosso relacionamento!
    bj

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  4. Eu também sentia muuuuuito cada uma dessas "perdas". E com a Alice então, é sempre muito pior, porque vem junto um "agora lá se foi meu último bebê que só mamava... que só engatinhava... que só interagia com as pessoas de casa..." Mas é uma lindeza vê-los crescer, mesmo que o preço a ser pago seja não vê-los fofinhos, lindos, pequenininhos e só nossos para sempre.

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  5. Ai amiga, me emocionei com teu relato...a gente sente né...sente tudo igual...tb sou assim...acho q a Bê me prefere sempre...mas há algum tempo, vejo que ela às vezes não prefere não...já recebi muitos não..até, SAI MAMÃE...cada um tem sua hora com ela...ela sabe q na hora de dormir, o papai é o maior...mas de madrugada (confesso q não preferia q fosse assim), só a mamãe pode ir no quarto dela e fazê-la dormir...ela chama mamae, seeempre! mas seremos sempre as maiorais pra ela...se Deus quiser!

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  6. Oi Ju. Lembro sim, parece que já foi há tanto tempo!!! Beijo!

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  7. Oi Alessandra. Entendo como é, porque não sei se vou ter mais um filho (embora eu queira muito). Aí também fico pensando se vou voltar a ter um bebê engatinhando pela coisa e coisas assim...

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  8. Ai ai, deu até vontade de ter filho logo! Mas não não não, agora não é a hora (preciso ficar me convencendo disso)! Hahaha
    Acho que vou ser igual nesse ponto, vou ficar com ciúmes de tudo e vou sentir saudade de cada fase! :)
    Achei lindo seu texto! Parabéns!

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